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HISTÓRIA
Participação da Viração na IV Assembleia Eletiva do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira/AM, fomenta a incidência política

Entre os dias 21 e 25 de outubro de 2024, a Viração foi até o município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, para facilitar uma oficina de Rádio e Podcast para adolescentes e realizar uma atividade sobre incidência política na V Assembleia Eletiva do DAJIRN (Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro).


Já falamos sobre a oficina em um artigo anterior, no qual você também encontra mais informações sobre o município de São Gabriel da Cachoeira, conhecido como a cidade mais indígena do Brasil. Não deixe de conferir! 


V Assembleia Eletiva do DAJIRN


O DAJIRN, Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro, é ligado à FOIRN, Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, e busca mapear e atender às demandas específicas desta população. Entre os dias 23 e 26 de novembro de 2024, foi realizada a V Assembleia Eletiva do departamento, que reuniu representantes das cinco coordenadorias de adolescentes da região: Alto Rio Negro e Xié (Caibarnx); Médio e Baixo Rio Negro (Caimbrn); Distrito de Iauaretê (Coidi); Baixo Tiquié, Uaupés e afluentes (Diawi’i); e Baniwa e Koripako (Nadzoeri).


Além de eleger a jovem Jucimery Teixeira Garcia, do povo Tariano, como a nova coordenadora do DAJIRN, a Assembleia também foi um importante espaço de trocas a respeito das demandas e necessidades das juventudes da região.


Ao longo dos quatro dias dedicados ao evento, houve uma série de falas, palestras e atividades sobre temas relevantes, como saúde mental e acesso à universidade. Um grande tema foi o das mudanças climáticas, que afetam desproporcionalmente as populações indígenas. Com vistas à construção da Carta de Direitos Climáticos da Juventude Indígena do Rio Negro, as pessoas presentes refletiram sobre os efeitos da crise climática e do racismo ambiental. Esta carta pretende apresentar as demandas prioritárias dos territórios sob a perspectiva da juventude indígena e gerar impacto na Conferência do Clima da ONU de Belém (PA) em 2025, a COP 30.


Luiza Gianesella, Analista de Projetos da Viração, participa da mesa de abertura da V Assembleia

Eletiva do DAJIRN, na Casa do Saber da FOIRN. Foto: Alberson Veloso Rodrigues


A equipe Viração esteve presente na mesa de abertura da assembleia, com uma breve fala sobre o tema da atividade que facilitaria no dia seguinte: a questão da incidência política, com foco nas juventudes indígenas.


O segundo dia de evento contou com a palestra de Arlindo Baré, atual presidente da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas. O apoio para que jovens indígenas entrem na universidade, e que façam isso sem perder a conexão com sua identidade cultural, são o foco da UPEI. Ele conta um pouco mais da organização e o que buscou trazer para a assembleia:

“(...)A importância de como o movimento estudantil indígena consegue sair de um espaço que não era muito perceptível e chegar hoje a ter sua opinião ouvida, reconhecida. Ao mesmo tempo ele ocupa um espaço muito importante dentro do movimento indígena. Entendo que de fato, estamos utilizando estas ferramentas [acadêmicas] pra buscar nossos direitos.


E como a gente pode utilizar as redes sociais para mobilizar, para contribuir com essa força que é o movimento indígena nacional. Lutamos contra o Marco Temporal, por exemplo. Estamos muito antenados em diversas pautas. Algumas para aprender, outras para ensinar, também para vivenciar. E assim vamos ocupando esses espaços de decisão, de políticas públicas voltadas aos povos indígenas.”



Unilson Mangini, Educomunicador da Vira, durante a atividade sobre Incidência Política na

V Assembleia Eletiva do DAJIRN. Foto: Alberson Veloso Rodrigues


Logo após o almoço, a equipe Viração pode iniciar a atividade sobre Incidência Política, e começou falando sobre a origem da palavra ‘política’, seu contexto e um pouco da sua aplicação ainda hoje. Mas o mais interessante deste início foi poder escutar dos participantes como se fala ‘política’ na língua de seus povos e como as atividades políticas se dão no dia a dia de suas comunidades. Algumas pessoas participantes levantaram-se e falaram sobre as próprias experiências, inclusive nas suas línguas, traduzindo depois para o português. A lembrança das diversas etnias ali representadas também demonstrou a diversidade no agir político, como deixou claro, por exemplo, um relato sobre experiências de decisão coletiva na gestão da comunidade.


A atividade continuou com uma fala sobre a organização dos 3 poderes, as 3 instâncias de poder e até os 3 setores da sociedade. A equipe não resistiu em fazer um pequeno jogo de perguntas e respostas para verificar se todos estavam acompanhando o conteúdo. As respostas corretas levavam kits do U-Report: foram 5, um para cada coordenadoria! E as perguntas envolviam os 3 setores. Eles arrasaram? Arrasam.


Jovem representante de uma das cinco coordenadorias do DAJIRN participa de quiz realizado durante

a atividade sobre Incidência Política, valendo um kit do U-Report. Foto: Alberson Veloso Rodrigues


Outro papo que rendeu foi a conversa sobre como cada setor da economia se sustenta financeiramente. Entender como funcionam os impostos que vão para o Estado Brasileiro, como tudo que se compra tem algum tipo de imposto embutido. Até as canetas que os jovens avidamente utilizavam para anotar o que rolava na palestra foram um exemplo. Os participantes foram atrás, pesquisaram e descobriram que, em alguns estados, o imposto sobre canetas chega a quase 50% do valor total do produto!


Luiza Gianesella, Analista de Projetos da Viração, apresenta a ativista Watatakalu Yawalapiti

durante a atividade sobre Incidência Política. Foto: Alberson Veloso Rodrigues


O foco do momento final da atividade foi inspirar e conectar os participantes com referências de ativistas jovens e/ou indígenas, dentro e fora da política institucional. Soubemos um pouco sobre o primeiro deputado federal indígena, Mario Juruna; a primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal por Minas Gerais, Célia Xakriabá; e a jovem Txai Suruí, primeira indígena a discursar na abertura de uma conferência do clima, dentre entre outras lideranças. Mas trouxemos também o trabalho da rapper, cantora, compositora, atriz e ativista Katú Mirim; da pesquisadora conhecida internacionalmente por seus trabalhos com o manto tupinambá, Glicéria Tupinambá; e do jovem estilista manauara Maurício Duarte, do povo kaixana: pessoas que, mesmo sem envolvimento direto na política institucional, chamam a atenção para as causas importantes para seus povos e geram impacto positivo para toda a sociedade a partir das suas ações.


Participantes da V Assembleia Eletiva do DAJIRN, na Casa do Saber da FOIRN.

Foto: Alberson Veloso Rodrigues


Um dos jovens que interagiu bastante com a equipe durante a palestra foi João Alexis, 23 anos, comunicador indígena da Rede Wayuri, do povo Yanomami:

“O evento está sendo muito produtivo. Esta é a minha primeira vez participando da Assembleia Eletiva da Dajirn. Mas participei já de muitas ações do movimento indígena. Eu como militante deste movimento, espero que este momento seja produtivo. As palestras estão sendo muito ricas. As experiências e vivências que estão trazendo. Isso é muito importante para nós que somos de comunidades de base.


É um orgulho pra mim estar representando um povo. O povo yanomami não é de apenas uma localidade. Ocupamos uma região bastante extensa. Pra mim, representar um povo tão grande é uma satisfação, mas também um desafio. Levar informação pra eles é um desafio enorme, mas tenho uma grande expectativa para trazer o conteúdo daqui para as nossas comunidades de base. Como um jovem yanomami estar a frente, estar participando ativamente dos movimentos. Isso é uma grande alegria.”


Perspectivas futuras


Tanto a Oficina de Rádio e Podcast quanto a atividade sobre Incidência Política que a Viração facilitou em São Gabriel da Cachoeira se inserem numa perspectiva ampla de inserção da educomunicação nas atividades do DAJIRN e da Rede Wayuri. Segundo Cláudia Wanano, a oficina junto aos adolescentes e jovens dos grêmios estudantis da região foi um primeiro passo para a criação de atividades educomunicativas continuadas a serem promovidas pela Rede.


O U-Report, projeto do UNICEF implementado pela Viração, tem como objetivo mapear as demandas e necessidades das adolescências e juventudes do Brasil, com vistas à participação política e ao advocacy em relação a pautas específicas que impactam a vida deste público específico. A parceria da Viração com a Rede Wayuri, através do projeto, traz à luz demandas e vivências das adolescências e juventudes indígenas da região do Rio Negro, pertencentes a povos e comunidades com uma ligação profunda com seus territórios e cuja atuação política é essencial para fazermos avançar questões centrais relativas principalmente às mudanças climáticas e à preservação da floresta, essenciais não apenas para estes povos e comunidades.


Por isso, aceitamos com muita alegria o convite da Rede Wayuri, e encerramos este relato reafirmando nossa esperança em relação ao aprofundamento desta parceria com vistas ao fortalecimento da participação cidadã de adolescentes e jovens do Rio Negro.

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