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HISTÓRIA
Viração realiza oficina de Rádio e Podcast junto a adolescentes e jovens indígenas do Rio Negro em São Gabriel da Cachoeira/AM

Entre os dias 21 e 25 de outubro de 2024, a Viração foi até o município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, para facilitar uma oficina de Rádio e Podcast para adolescentes e realizar uma atividade sobre incidência política na V Assembleia Eletiva do DAJIRN (Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro).


As ações foram fruto de uma parceria da Viração, através do projeto U-Report, do UNICEF, cuja implementação está a cargo da organização, com a Rede Wayuri. Ligada à FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), a Rede, criada em 2017, é um coletivo de mídia popular formado por aproximadamente 30 comunicadores que produzem notícias semanais para as mais de 750 comunidades das 23 etnias presentes na região. Desde a sua criação, já recebeu diversos prêmios e reconhecimentos, como o Prêmio Estado de Direito 2022, do World Justice Project, e, mais recentemente, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.


São Gabriel da Cachoeira


Foto: Janailton Falcão


Localizado no extremo noroeste do país, na divisa com a Colômbia e a Venezuela, o município é o terceiro maior do Brasil em extensão territorial, além de ser conhecido como “a cidade mais indígena do Brasil”. Isso porque mais de 90% da sua população é indígena e, além do Português, três línguas indígenas foram reconhecidas como co-oficiais no município: Tukano, Baniwa e Nheengatu.


São Gabriel da Cachoeira, também conhecida como “Cabeça do Cachorro” devido ao formato de seu território, é um ponto de encontro para as comunidades indígenas desta região, abrigando a sede da FOIRN e também de iniciativas ligadas a ela, como a Rede Wayuri e a Arte Wariró. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), 29,37% do território do estado do Amazonas é composto por terras indígenas. Considerada a mais preservada da Amazônia, a região de atuação da FOIRN engloba as terras indígenas do Alto e do Médio Rio Negro.


O acesso a São Gabriel se dá através de avião ou barco. Há dois voos semanais (às terças e sábados) conectando a cidade à capital do estado, Manaus, com duração de aproximadamente 1h35. No entanto, é mais comum o deslocamento através de barcos, uma vez que este modal é significativamente mais barato. O trajeto dura 24h em lancha ou aproximadamente três dias em barco convencional, sendo que, atualmente, devido à seca no Rio Negro, o tempo de viagem pode praticamente dobrar.


Isso porque o leito do rio é majoritariamente rochoso e, graças também à cor da água, que dá ao rio seu nome, é necessário tomar muito cuidado para não bater a embarcação nas pedras. Quando o rio está cheio, é possível navegar durante a noite com segurança, o que não acontece em tempos de seca tão extrema, obrigando os barcos a pararem durante a noite.


A equipe da Viração optou pelo avião, chegando no município no sábado anterior à data de realização das atividades, dia 19 de novembro.


Oficina de Rádio e Podcast


Nos dias 21 e 22 de novembro, segunda e terça, a Viração facilitou a oficina Comunicar para mobilizar: oficina de rádio e podcast, oferecida para adolescentes e jovens, na sua maioria ligados aos grêmios estudantis das escolas do município.


Ao longo de 12h de atividades, divididas em dois dias vivenciados no espaço do ISA, jovens de diversos grêmios da região puderam experimentar a linguagem sonora, algo entre a rapidez do rádio e a prosa do podcast. O primeiro dia contou com uma apresentação do U-Report, representado pelo robô Iure, chatbot que conversa diretamente com as adolescências e juventudes do Brasil através das redes sociais.


Foi apresentada também a edição 120 da da Revista Viração, sobre Participação Cidadã. As matérias foram escritas por jovens comunicadores e comunicadoras dos projetos U-Report Brasil e U-Report Uniendo Voces. Também foi possível estabelecer uma ligação entre a Rede Wayuri e a Revista Viração através da Claudinha Wanano, que foi uma jovem correspondente da Vira por muito tempo e agora atua na Rede de comunicadores indígenas. Claudinha articulou a parceria entre a Viração e a Rede Wayuri para a realização das atividades na cidade.


Claudinha Wanano (à esquerda) e jovens participantes da Oficina de Rádio e Podcast, na sede do ISA.

Foto: Alberson Veloso Rodrigues


Este dia foi uma grande introdução aos jovens presentes para a preciosidade da comunicação sonora educomunicativa. Eles puderam, de início, trazer problemas e situações que, de acordo com o que foi apresentado, poderiam se tornar uma notícia. Dividiram-se em grupos por interesse e começaram a fase de preparação, com pesquisa, discussão e o recorte que dariam ao conteúdo. Depois, criaram o roteiro, enquanto outra parte do grupo fazia exercícios de criação de vinhetas. Após o almoço e muita reescrita, os conteúdos foram gravados no espaço mais silencioso do ISA: a biblioteca. 


Utilizando seus próprios celulares, os participantes gravaram os dois programas experimentais, que logo ficaram prontos! Mas o mistério ficaria para o início do segundo dia, quando as produções seriam escutadas. A turma encerrou com o educomunicador relembrando as etapas da Educom percorridas pelos grupos, e como era fácil reproduzir essa lógica para criações de comunicação mais complexas.


O início do segundo dia contou, claro, com a escuta dos materiais e também com uma breve avaliação do processo. Poucas coisas na educom são tão incríveis quanto observar jovens se encontrando no conteúdo que criaram. O estranhamento com a própria voz, a seriedade, o reconhecimento dos demais… Esse processo serviu para iniciar a turma na produção que viria a seguir.


Após esta conversa, fizemos uma breve explanação sobre o básico da criação jornalística: LEAD, pirâmide invertida e causa versus consequência. Foi possível ver nas produções do segundo dia os passos da turma na direção de uma criação mais técnica. E que, claro, não seria a mesma coisa sem o olhar dos comunicadores presentes que deram vasto suporte à experiência da turma. Já falamos deles!


Com mais gente, a turma se separou em 3 grupos. Após a reunião de pauta, dividiram as funções e colocaram a mão na massa. Depois de uma longa pesquisa e da checagem do recorte para os temas escolhidos, iniciaram a criação do roteiro. E, nesta parte, Adelson Ribeiro, da Rede Wayuri, a professora Judite Albuquerque, representante do NUCA da cidade, e Vanessa Fernandes, jornalista do ISA, tiveram um papel essencial. Seja para acertar a linguagem do texto, para verificar as fontes, citações e hierarquia das informações, ou até para falar sobre a maneira como os comunicadores da Rede Wayuri se expressam, focando nos ‘parentes’ (termo utilizado para indígenas se referenciarem entre si de uma forma acolhedora e agregadora), e a partir daí sugerirem que os adolescentes e jovens buscassem uma maneira autêntica e efetiva de se comunicarem com seu público.


Após o convite de Claudinha, que iria fazer um programa de rádio online ao vivo naquele fim de tarde e sugeriu levar os materiais de áudio produzidos por eles ao ar, a turma partiu para a sede da Rede Wayuri, curiosos para escutarem suas produções. E, lá, durante um lanche, todos puderam conversar sobre como havia sido aquela experiência, incluindo a descoberta de novos talentos, interesses e habilidades.


“No primeiro dia, vou confessar, não gostei muito, pois eu fui arrastado pelo meu colega. Mas depois, passando o tempo, eu comecei a prestar mais atenção, comecei a gostar do conteúdo. No final do dia eu até agradeci o meu amigo por ter me arrastado pra cá! Admito que gostei mesmo do que escrevemos, dos temas que falamos, utilizar a câmera. Nestes dias eu fiquei responsável por gravar, organizar o grupo, cuidar do tempo. E o que eu mais gostei de fazer foi falar sobre o conteúdo. Eu não sabia que tinha essa voz!”

Alberson Veloso Rodrigues, 15 anos, do povo Cubeo.


Além de participar da oficina, Alberson acabou se tornando o fotógrafo oficial das atividades facilitadas pela Viração, tanto durante a oficina quanto durante a IV Assembleia Eletiva do DAJIRN, sobre a qual falaremos no próximo artigo. Demonstrou grande interesse e muita habilidade com a câmera! Muitas das fotos que ilustram este texto são dele. 


Nayra Stephany, participante da Oficina de Rádio e Podcast, participa ao vivo da programação da Rádio Online Wayuri.

Foto: Luiza Gianesella


Na sede da Rádio Online Wayuri, os participantes descobriram na prática como é fazer uma rádio ao vivo. Lá mesmo, preparam o texto para apresentar suas produções. Nayra Stephany, jovem que participou dos 2 dias e produziu o conteúdo sobre identidade e língua indígena, se voluntariou para fazer a leitura, introduzindo os programetes ao vivo para todos os ouvintes. Não deixe de escutar esta e as demais produções da Rede!


Encerramento da Oficina de Podcast, em frente à sede do ISA (Instituto Socioambiental)


Os conteúdos em áudio produzidos pelo pessoal estão disponíveis através do chatbot do U-Report Brasil. Para acessá-los, basta mandar a palavra “audiozap” para o Iure. É possível acessar conteúdos sobre saúde mental, perda cultural e trabalho com audiovisual, tanto em áudio quanto através de mensagens de texto interativas.


Agradecemos muito o convite da Rede Wayuri e temos certeza de que o aprofundamento da parceria estabelecida será ótimo para o apoio às iniciativas educomunicativas da rede junto às juventudes indígenas na região do Rio Negro.


Conteúdos em áudio produzidos em parceria com a Rede Wayuri

disponíveis para adolescentes e jovens de todo o Brasil através do U-Report

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